
Meu coração tem duas portas.
Numa vive um gato negro que alimento secretamente.
Na outra, um cão fiel me acompanha todos os dias.
Uma, vive fechada e dela ninguém sabe. Escondo ali minhas mais antigas lembranças, sinfonias, quadros, livros, escritos, idéias, sonhos, segredos, saudades. Delas, é o gato meu guardião.
A outra, se abre e se fecha. Ali transita meu dia a dia, minha vida comum. O cão passeia comigo, me faz as vontades, me tira de casa, me cansa, me casa, me lambe, me causa alegria e não me deixa só.
O gato compreende o pedaço de mim que é louco. Sabe que também gosto de telhados altos para cochilar no sol ou ver a lua bem pertinho. É ele que aponta comigo as estrelas da via láctea sem medo de verruga. É ele quem me lembra de como se faz para pensar o mundo do avesso e não ter idade.
O cão me guia nas estradas, tem faro e bússola. Com ele não me perco, me comporto, sou gente comum, não ouso e nem arrisco. É com o cão que acerto o passo.
O gato é a fantasia irrealizada.
O cão, é a realidade cotidiana.
(Autoria desconhecida)
Um comentário:
Bela metáfora para essa nossa eterna divisão da alma.
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