Todo viajante sabe que durante o caminho vai precisar de pequenas coisas que tornam o trajeto mais agradável e gostoso. Uma parada para um picolé ou café (depende da estação do ano), um xixistopi (de preferência num bom posto de gasolina onde tenha sabonete e papel higiênico), um belvedere pra espichar as pernas enquanto contempla o panorama... Outras vezes a gente precisa daqueles que eu chamo de anjos da estrada, que estão de plantão pra socorrer em momentos de dificuldade qualquer. Na maioria das vezes são pessoas bacanas que dão informações, sejam moradores do lugar, borracheiros ou policiais rodoviários.
A viagem de Urubici a S. Francisco do Sul foi uma dessas indiadas (muito comuns nas minhas viagens, mas mesmo assim encantadoras) em que a gente decide pela estrada errada. Eu tinha planejado direitinho todo o percurso, calculei tudo pelos mapas, me assessorei de informações pela internet, guia 4 rodas e tal. Pois é. Acontece que o pessoal do hotel achou que o caminho melhor não era bem o que eu tinha planejado e sugeriu outro, que, por minha vez, tratei de adaptar digamos... um pouquinho só. Seu Arnaldo, o bom motorista, concordou. (quem leu postagem anterior já sabe que seu Arnaldo é um personagem que inventei).
Voltando ao relato: decidimos sair de Urubici e pegar a rodovia que leva a Florianópolis até um trecho e depois ir para Brusque via Leoberto Leal. Já ouviu falar? Eu também não. Pois existe e para chegar lá percorre-se uma linda estradinha de chão de mais ou menos - bem, não lembro agora, mas certamente até Brusque mais de 60 km. Sem noção, né? Realmente, na hora não olhamos a quilometragem toda no mapa, empolgados com a beleza da estradinha cheia de vacas pastando, riozinhos com nomes esquisitos e pequenas pontes. Eu estava adorando, pois como co-pilota que não dirige, meu trabalho é apreciar o panorama. Mas, seu Arnaldo não estava nos seus melhores dias... E começou a passar mal com o calor e o trajeto que não acabava mais. Paramos numa linda cachoeira para um refesco, mas o mal estar só piorava. Foi, foi,até que chegamos, depois de umas 2 horas, ao " centro" de Leoberto Leal.
Ah, que rico lugarzinho, um encanto! Daqueles que só tem uma igrejinha e uma rua. Descemos para tomar uma Coca na lancheria local e eu me atraquei nuns maravilhosos bolinhos de carne, ainda quentinhos. Já era meio dia e sabe-se lá quando eu ia comer novamente, exceto as maçãs e bolachas do nosso farnel.
Seu Arnaldo, porém, passava mal. Doíam as costas, demais, e ele começou a sonhar com a sua massoterapeuta, a única que consegue colocar em dia as suas paletas estressadas. Seu Arnaldo, sempre bem humorado e disposto, já tinha se arrependido completamente da decisão de seguir pela linda estradinha de chão. A moça da lancheria sugeriu um outro caminho: vai até Rio do Sul por asfalto, depois a Blumenau e dali segue pro norte. Encurtava muito o caminho, mas tivemos que abrir mão de passar por Brusque. Ok, mas mesmo assim, seu Arnaldo piorava a cada quilômetro rodado, não queria nem papo. Cruzamos um monte de cudimundos e quando chegamos na rodovia que acessa Rio do Sul, o que eu vejo?? Uma enorme placa: MASSOTERAPEUTA JOSENEI MARTINS.
Eita que o anjinho da guarda estava mesmo de plantão! Lancei o alerta para seu Arnaldo, que deu meia volta e parou pra tentar um atendimento de urgência. Não só conseguiu que o Josenei o atendesse na hora, como descobriu nele um colega. Josenei também é professor universitário e está iniciando seu doutorado na USP. Massoterapeuta de mão cheia nas horas vagas. Bacana, né? Josenei nem sabe o bem que fez: enquadrou-se na categoria dos anjos da estrada. E a viagem continuou melhor, tirando o fato que tivemos que passar pela pior rodovia da minha vida, entre Rio do Sul e Blumenau, onde há o maior número de caminhões por quilômetro rodado. Mas isso já é outra história.
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